Publicado em 18/11/2005 (revisto em 29/04/2008)
Burkholderia cepacia (anteriormente Pseudomonas cepacia) foi originalmente descrita em 1950 por Burkholder como uma espécie fitopatogénica, responsável pelo apodrecimento dos bolbos de cebolas. São microrganismos Gram-negativos, aeróbicos e móveis, que podem produzir pigmentos não fluorescentes e acumular poli-β-hidroxialcanoatos como materiais de reserva. A sua temperatura óptima de crescimento varia entre os 30º e 35ºC (Palleroni, 1984), podendo utilizar mais de 200 compostos como fonte de carbono e energia.
O género Burkholderia pertence à subdivisão β do grupo das
proteobactérias
(Fig. 1) e, desde a sua criação, a sua taxonomia tem sofrido alterações consideráveis, compreendendo actualmente 31 espécies. Em 1997, um estudo taxonómico extenso, envolvendo a caracterização de organismos identificados através de testes bioquímicos como Burkholderia cepacia, demonstrou que estes partilhavam características fenotípicas semelhantes mas genotípicas diferentes, podendo pertencer a, pelo menos, 5 espécies diferentes. Desde esse primeiro estudo, a taxonomia do complexo B. cepacia (BCC) tem vindo
a modificar-se consideravelmente e, actualmente, pertencem ao complexo B.
cepacia 9 espécies diferentes: B. cepacia, B.
multivorans, B. cenocepacia, B.
stabilis, B. vietnamiensis, B. dolosa, B.
ambifaria, B. anthina e B. pyrrocinia
(ver Fig. 1).
Fig. 1 - Árvore filogenética indicando a posição do complexo Burkholderia cepacia no grupo das beta-proteobactérias. A barra representa 5% de distância filogenética (Adaptado de Coenye & Vandamme, 2003, 5, 719-729).
Características do complexo B. cepacia | ||
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Membro do complexo B. cepacia | Fonte/origem de isolamento | Características Gerais |
Genomovar I B. cepacia |
Fitopatogénio, rizosfera, água, solo, humanos (FQ e outros) | Normalmente, é pouco prevalente em doentes com FQ. No entanto, foi isolada de uma percentagem importante da população Portuguesa com FQ estudada (Cunha et al., 2007) |
Genomovar II B. multivorans |
Rizosfera, humanos (FQ e outros) | É uma das espécies mais comuns em doentes com FQ; vários surtos epidémicos descritos |
Genomovar III B. cenocepacia |
Ambiente hospitalar, rizosfera, solo, humanos (FQ e outros) | É a espécie mais prevalente e virulenta em doentes com FQ. Várias linhagens epidémicas descritas. Espécie vulgarmente associada a mau prognóstico |
Genomovar IV B. stabilis |
Ambiente hospitalar, humanos (FQ e outros) | É importante, no contexto clínico, mas pouco prevalente nos doentes com FQ |
Genomovar V B. vietnamiensis |
Rizosfera, solo, humanos (FQ e outros) | Pouco prevalente na FQ. Espécie que inclui várias estirpes que fixam azoto e estirpes usadas em bioremediação |
Genomovar VI B. dolosa |
FQ | Quase exclusivamente isolada de doentes com FQ. É transmissível, estando descritos vários surtos epidémicos envolvendo esta espécie |
Genomovar VII B. ambifaria |
Rizosfera, solo, FQ | Raramente isolada de doentes com FQ. Várias estirpes registadas como biopesticidas |
Genomovar VIII B. anthina |
Solo, FQ | Pouco prevalente em doentes com FQ |
Genomovar IX B. pyrrocinia |
Solo, FQ | Pouco prevalente em doentes com FQ |
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