Publicado em 18/11/2005
De um modo geral, os solos agrícolas sujeitos a aplicações repetidas de atrazina desenvolvem uma capacidade intrínseca para mineralizar o herbicida, com libertação dos átomos do anel sob a forma de CO2 (Alvey & Crowley, 1995) .
Esta capacidade mineralizadora pode estar associada ao desempenho de um
único microrganismo ou à acção conjunta de um consórcio microbiano, em
que a via de degradação depende da composição da comunidade de
microrganismos degradadores. A avaliação da degradação de atrazina em
solos é efectuada, essencialmente, em sistemas de
microcosmos/mesocosmos recorrendo a ensaios laboratoriais, em que
amostras de solo são preparadas com concentrações conhecidas de
atrazina. Na metodologia experimental adoptada por
Silva et al (2004), no estudo da mineralização de atrazina, o solo foi contaminado com uma mistura de atrazina marcada no anel (14C-UL-atrazina) e atrazina não radioactiva (figura 1). A mineralização foi quantificada em função do 14CO2 libertado, o qual foi capturado numa solução de NaOH e posteriormente quantificado num contador de cintilações (figura 1).
Fig. 1 - Representação esquemática do procedimento experimental adoptado por Silva et al. (2004) para o estudo da mineralização de atrazina no solo à escala laboratorial (Adaptado de Silva, E., Sá Correia, I., Fialho, A.M., 2005).
A utilização desta estratégia experimental permitiu a
Silva et
al., (2004)
, avaliar a capacidade de um solo agrícola, de superfície, para mineralizar
duas concentrações de atrazina (19 e 169 µg.g-1) as quais
simulam, em sistema de microcosmo, as encontradas em regiões circunscritas, resultantes
de aplicações inadequadas ou de derrames acidentais do herbicida (figura 2).
Nas condições testadas, foram necessários 12 dias para mineralizar 37% da concentração
mais baixa de atrazina
(19 µg.g-1) (figura 2). Verificou-se
ainda que para a concentração superior do herbicida, 169 µg.g-1,
apenas 1% da atrazina inicialmente adicionada foi mineralizada no mesmo
período de tempo (12 dias), sendo necessários 67 dias para mineralizar
54% (figura 2). Assim, verifica-se que a eficiência do solo utilizado
para mineralizar atrazina é mais reduzida quando se trata de
concentrações mais elevadas do herbicida. Os resultados destas
experiências demonstraram ainda que as curvas de mineralização são de
forma sigmoidal, com uma fase inicial de adaptação seguida por uma fase
de mineralização exponencial (figura 2). Esta fase
de adaptação,
mais pronunciada na mineralização da concentração mais elevada de
atrazina, está de acordo com o que se verifica para a degradação de
outros xenobióticos (Alexander, 1994). Numa condição de ambiente
natural, a fase de adaptação, de um modo geral prolongada, que antecede
a mineralização de atrazina assume um grande significado, uma vez que
durante este período de tempo a atrazina pode ser lixiviada do solo
para outros compartimentos ambientais, podendo levar à contaminação de
águas superficiais e subterrâneas. Deste modo, a eficácia demonstrada
por este solo agrícola para mineralizar a atrazina foi extremamente
diminuta, o que faz da atenuação natural (mineralização por parte da
comunidade indígena) um processo de biorremediação muito pouco
atractivo.
Fig. 2 - Capacidade intrínseca de um solo agrícola, de superfície, para mineralizar atrazina. O ensaio experimental foi efectuado à temperatura de 30ºC, de acordo com o procedimento representado na figura 1 (Silva et al., 2004).
Para além de depender da adaptação da comunidade de microrganismos
degradadores, a biodegradação de atrazina no solo é também
espacialmente variável, sendo que a persistência da atrazina é superior
nas camadas mais profundas. As baixas temperaturas e a ausência de
organismos degradadores são apontados como os principais factores que
limitam a mineralização de atrazina no subsolo (Radosevich et al., 1996).
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