Publicado em 18/11/2005
A revolução industrial trouxe um enorme aumento da poluição e da produção de resíduos. Na realidade, muitos dos problemas ambientais actuais são o resultado de mais de 200 anos de má gestão do lixo industrial, sendo os locais contaminados uma consequência frequente do manuseamento e eliminação inadequados de materiais perigosos, e podendo o custo global de resolução deste e de outros problemas ambientais atingir os mil milhões de euros (LaGrega et al., 2001).
Na Europa, foram identificados 60000 locais a precisar de tratamento urgente (Prokop et al., 2000). Na Holanda, por exemplo, um país com cerca de 15 milhões de habitantes, estima-se um custo de 23000 a 46000 milhões de euros para tratamento de locais contaminados a nível nacional, baseado nas técnicas convencionais e legislação actual.
Um estudo português sobre produção, tratamento e eliminação de resíduos conduzido em 1987 revelou que apenas 18% do lixo perigoso produzido era convenientemente eliminado ou incinerado nessa altura (Prokop et al, 2000). Não é, desta forma, surpreendente que uma investigação jornalística mais recente indique que existem 22000 locais potencialmente contaminados em Portugal.
Tendo em conta estes números alarmantes, torna-se necessário encontrar processos de remediação mais eficazes e de menor custo, ou melhorar os métodos actuais.
A natureza perigosa dos resíduos pode ser atenuada pela aplicação de
métodos convencionais de descontaminação, como é o caso da incineração
e do Landfilling (transferência da contaminação do seu local
original para outro considerado mais apropriado). No entanto, a
aplicação destas técnicas, que envolve a remoção e transporte das zonas
contaminadas, é economicamente dispendiosa, aumenta a exposição dos
trabalhadores aos contaminantes, nem sempre conduz à destruição e
redução da toxicidade dos compostos e/ou gera produtos mais tóxicos
(Walter e Crawford, 1997). A biorremediação, que se refere à utilização
de processos biológicos conducentes à redução ou eliminação da
concentração e toxicidade de poluentes químicos no ambiente, tem
surgido como uma alternativa aos métodos tradicionais de
descontaminação (Vidali, 2001)
Fig. 1 - Comparação dos custos associados aos processos tradicionais de remediação de resíduos com os custos de biorremediação.
Os benefícios associados ao uso da biorremediação, resultantes da destruição ou redução da toxicidade de compostos tóxicos no ambiente, e a boa proporção custo-eficiência, têm levado ao seu desenvolvimento. Nos últimos 20 anos, a biorremediação evoluiu muito, passando da fase de tecnologia praticamente desconhecida para a fase de uma tecnologia considerada aplicável a um largo espectro de contaminações (Walter e Crawford, 1997).
A biorremediação é uma estratégia versátil que pode ser aplicada ex situ, o que envolve a escavação e remoção das regiões contaminadas do seu local original, e in situ, ou seja no local contaminado. A aplicação da biorremediação in situ no tratamento de solos, por exemplo, oferece a vantagem de não ser necessária a remoção e transporte das zonas contaminadas, bem como a de permitir o tratamento de grandes áreas. No entanto, o tratamento in situ requer períodos de tempo mais longos, gera mais dúvidas quanto à uniformidade do tratamento devido à variabilidade espacial do solo e é também um processo mais difícil de controlar e de avaliar a eficiência.
A biorremediação pode ser efectuada através da utilização de
bactérias, fungos ou plantas que degradam ou reduzem a toxicidade das
substâncias a remover do ambiente. A bioestimulação e bioadição
constituem-se como estratégias de biorremediação que utilizam
microrganismos e cuja aplicação isolada ou combinada poderá conduzir a
uma rápida e completa degradação de poluentes. A bioestimulação tem por objectivo aumentar o número ou estimular a actividade dos
microrganismos degradadores da comunidade indígena de uma determinada
região contaminada, através da adição de receptores de electrões,
nutrientes ou dadores de electrões. A bioadição
consiste na adição de microrganismos, pertencentes ou não à comunidade
indígena, crescidos em laboratório e com capacidade para degradar o
contaminante a remover (Vogel, 1996;
Widada et al., 2002
).
Esta técnica poderá ainda ser aplicada com o
objectivo de transferir para a comunidade indígena a informação
genética, presente na estirpe degradadora, necessária à degradação (Top et al., 2002
).
A fitorremediação é uma estratégia de biorremediação que utiliza
vários tipos de plantas para remover, transferir, estabilizar ou
destruir contaminantes em ambientes poluídos (Vidali, 2001
)
A escolha da estratégia de biorremediação mais apropriada para
tratar um determinado local, é determinada por vários factores, tais
como as características do(s) poluente(s) presente(s) (natureza,
concentração e biodisponibilidade) e a composição em termos de
nutrientes e população microbiana presente no local (Dua et al., 2002). A solução mais eficaz poderá passar por uma combinação de diferentes técnicas de biorremediação (Kuiper et al., 2004
;
Silva et al., 2004
).
Para comentar tem de estar registado no portal.